quinta-feira, 3 de novembro de 2011


“, porém o Sr. José não consegue se libertar de uma ideia fixa, a de que mais ninguém, a não ser ele, poderá mover a derradeira pedra que ficou no tabuleiro, a pedra definitiva, aquela que, se for movida na direcção certa, virá a dar sentido ao jogo, sob pena, não o fazendo, de o deixar empatado para a eternidade. Não sabe que mágico lance será esse, se aqui se decidiu a passar a noite não foi por ter esperança de que o silêncio lho visse segredar nem que a luz da lua amavelmente lho desenhasse entre as sombras das árvores, está apenas como alguém que, tendo subido a uma montanha para alcançar as paisagens de além, resiste regressar ao vale enquanto não sentir  que nos seus olhos deslumbrados já não cabem mais vastidões.”
js

domingo, 11 de setembro de 2011

"(...) Por isso José não dorme, ou sim dorme e em ânsias desperta, atirando para uma realidade que não o faz esquecer-se do sonho, a ponto de poder dizer que, acordado, sonha o sonho de quando dorme, e, dormindo, ao mesmo tempo que busca desesperadamente fugir-lhe, já sabe que é para tornar a encontrá-lo, outra vez e sempre, este sonho é uma presença sentada no limiar da porta que está entre o dormir e o velar, saindo e entrando José tem de enfrentar-se com ela. Entendido já foi que a palavra que define exactamente este novelo é remorso, mas a experiência e a prática da comunicação, ao longo das idades, têm vindo a demonstrar que a síntese não passa duma ilusão, é assim, salvo seja, como uma invalidez da linguagem, não é querer dizer amor e não chegar a língua, é ter língua e não chegar ao amor. (...)"